19/06/2009

Poema "Falsos Amigos"

Para amenizar (ou não) este sisudo blog, vou transcrever um poema que já tem sido citado em recensões do livro "Poesia Reunida", publicado no ano 2000, e está inserido num conjunto denominado "Poemas Vários" (1950-1975):




FALSOS AMIGOS


Tenho amigos que pensam confundir-me
igualando a loucura à minha ânsia.
Pobrezitos que tentam destruir-me,
havendo de permeio esta distância.

Eu tenho pena de não ser um deles,
ao menos uma vez, por uns momentos.
Gostava de morrer um dia neles,
ressuscitando nos seus pensamentos.

Pintar-lhes-ei um dia o rosto a sério,
com talento nascido de neurose
que faça vê-los nus no baptistério
onde lavam a alma da esclerose?

Toda a gente rirá desse retrato,
e haverá certamente prò comprar
um novo-rico que lhe admire o fato
e o pendure na sala de jantar.

Hei-de pôr-lhes uns olhos que reluzam
nos vazios das órbitas repletas,
profanação nos dedos que se cruzam,
num indigno repouso de poetas.

Ah, são eles que procuram destruir-me,
criticando-me as faces controversas!,
mas apenas conseguem reunir-me
nas mil forças que tenho bem dispersas.

Sem comentários: