12/10/2008

Continuação de poemas sobre escritores portugueses

A JOSÉ RÉGIO






Esse teu régio pendor
pra cavar e escavar
na vastidão invulgar
do teu mundo interior,

floresta viva do Homem,
lutando em noites de breu
contra os impulsos do EU,
contra as forças que o consomem;

Essa tal régia postura,
de quem não verga a coluna
a toda a voz que se enfuna,
correntia e imatura;

A rejeição da retórica
que transforma a Poesia
nessa coisa branca e fria,
marmórea coluna dórica;

A firmeza do teu Não,
do teu: Não vou por aí!,
rumarei donde parti,
sem temer a perdição!;

Esse teu régio destino,
teu fado, tua verdade,
em Portalegre, a cidade;
o teu olhar de menino

a cada raminho novo
que a tenra acácia deitava
e tua morte afastava;
o teu olhar sobre o povo

e sobre mulheres várias,
jovens ou velhas megeras
com ofício de outras eras,
generalas e empresárias,

e outras, com inocência,
pelas ruas da amargura,
que arrastam quem as procura
a frustrar a consciência;

Esse teu régio passado,
retratá-lo eu não consigo,
mas continuo contigo
e não enjeito o teu Fado![1]






[1] As palavras em itálico pertencem a José Régio.
(O poema foi extraído do livro "Escuta o Coração do Mundo", editado pelo Município de Oliveira do Hospital.)

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