A JOSÉ RÉGIO
Esse teu régio pendor
pra cavar e escavar
na vastidão invulgar
do teu mundo interior,
floresta viva do Homem,
lutando em noites de breu
contra os impulsos do EU,
contra as forças que o consomem;
Essa tal régia postura,
de quem não verga a coluna
a toda a voz que se enfuna,
correntia e imatura;
A rejeição da retórica
que transforma a Poesia
nessa coisa branca e fria,
marmórea coluna dórica;
A firmeza do teu Não,
do teu: Não vou por aí!,
rumarei donde parti,
sem temer a perdição!;
Esse teu régio destino,
teu fado, tua verdade,
em Portalegre, a cidade;
o teu olhar de menino
a cada raminho novo
que a tenra acácia deitava
e tua morte afastava;
o teu olhar sobre o povo
e sobre mulheres várias,
jovens ou velhas megeras
com ofício de outras eras,
generalas e empresárias,
e outras, com inocência,
pelas ruas da amargura,
que arrastam quem as procura
a frustrar a consciência;
Esse teu régio passado,
retratá-lo eu não consigo,
mas continuo contigo
e não enjeito o teu Fado![1]
[1] As palavras em itálico pertencem a José Régio.
(O poema foi extraído do livro "Escuta o Coração do Mundo", editado pelo Município de Oliveira do Hospital.)
Sem comentários:
Enviar um comentário