12/10/2008

Poemas sobre escritores estrangeiros

A PABLO NERUDA





Foste um herói, Neruda!
Tu triunfaste por teus ideais,
tu combateste a podridão
que mina o ser humano,
tu verberaste os insensíveis donos
das pampas infinitas
onde se perde a nossa vista,
denunciando as leis em que se apoiam
a fim de escravizarem os mais fracos
à sua vontade caprichosa.
Tu descreveste a árvore do povo
cujas raízes estão vivas,
a árvore dos seres livres,
sempre íntegra, sempre incólume,
apesar das rudes machadadas dos ambiciosos,
essa árvore amada pelos libertadores
que superam a sua humanidade,
despidos da arrogância dos deuses…
Tu denunciaste o colonialismo cruel
e os fantasmas que dão forma ao medo
e vão alimentando a ignorância
que faz baixar os braços,
mas de raiva os fortalece ao mesmo tempo.
Tu enfrentaste os que prosperam
à sombra das bananeiras,
balançando-se em vistosas redes,
tecidas por mãos habilidosas de mulheres
passivas, resignadas…
Tu amaste a tua América latina
com a fogosidade tão poética
dum cavaleiro a percorrer planícies,
levando à cinta a sua lança de exterminador…


Tu amaste a tua pátria, o Chile,
e nunca a dissolveste em globalizações
de massa,
onde se perde a tradição
e se adulteram os costumes.
A ela regressaste no fim da caminhada
por montes e por vales,
depois de ter’s provado o sabor da água
dos rios límpidos da Terra.
Tu descansaste finalmente no teu país idolatrado,
que defendeu sozinho uma flor misteriosa
na imensidão da América adormecida.
Foste um herói, Neruda![1]





[1] As palavras ou frases em itálico foram extraídas do CANTO GERAL, de Pablo Neruda.















EM MEMÓRIA DE VIRGÍNIA WOOLF








Se à nossa volta nada mais existe
do que um imenso abismo sem remédio,
uma falha telúrica a sorrir
e a sorver nossa força e nossa esperança,
se não há árvores que possam socorrer-nos
com a sua pujança vegetal,
em paisagens idílicas, calmantes,
se à nossa volta existe imenso abismo
e as árvores não podem socorrer-nos,
se não há nada a que possamos lançar mão
e não sustém o verde a nossa esperança,
existe ainda a redenção das águas,
refulge a misteriosa imensidade,
horizontal ou vertical, dos mares
e ainda dos rios e dos lagos,
das águas azuladas, calmas ou revoltas,
que nos convidam com doçura ou raiva
a um mergulho nas suas profundezas,
antípodas do céu que imaginamos
mas nunca poderemos atingir,
pois para tanto nos falecem asas
que a outrem concedeu a Natureza…

(Estes poemas foram extraídos do livro "Escuta o Coração do Mundo", editado pelo Município de Oliveira do Hospital.)

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